Existe uma lei no Pampa: todo gaúcho que cruza com uma árvore de umbu sempre tira o chapéu e faz uma saudação. É um costume tão antigo, que muitos nem sabem o motivo da reverência.
Os escravos apreciavam o umbu pelo seu tronco largo e pela sombra de suas folhas, onde podiam descansar após um duro dia de trabalho. Os jesuítas que aqui aportaram séculos atrás utilizavam a árvore como demarcador de terras, um símbolo do Novo Mundo, aparecendo em vários mapas de toda a região platina. E antes ainda de os padres sequer pensarem em vir para a América, nossos índios já tinham muitas histórias sobre a árvore.
Ao longo dos tempos, a gente do campo criou outras tantas histórias em que o umbu aparece como amigo, pousada, abrigo, protetor, salvador, refúgio. Para muitos, é a árvore simbolo do Rio Grande do Sul.
Só que a madeira do umbu não presta para nada. É frágil, mole, quebradiça, sem uso, se desmancha com a menor força. De tão fina e sem consistência, o fogo logo se cansa dela e nem para fogueira a diaba serve.
Mas isso se explica com a lenda.
Logo depois do sétimo dia de criação, a Terra não era bem do jeito que se conhece nos tempos de agora. As árvores eram todas iguais. Quando Deus se deu conta disso, foi de árvore em árvore perguntando como elas queriam ser.
A macieira pediu para ser frondosa, com frutos vermelhos. O pinheiro queria ser alto, com madeira forte, a figueira, além de madeira forte, queria ter raízes enormes, para que o vento nenhum a levasse. E assim cada uma foi sendo atendida conforme o seu gosto, o ipê, a araucária, o plantio. Até que chegou a vez do umbu.
_ E tu umbu, como queres ser? Darás frutos?
_ Frutos já existem aos montes, Senhor, de todas as cores, formas e tamanhos.
_ Darás flores, então?
_ Flores também criaste muitas, e tão bonitas que mais uma não faria diferença.
_ Queres que eu dê madeira forte?
_Não, Senhor. Eu quero folhas largas, que dêem muita sombra para o descanso dos homens, e a madeira fraca, fraquinha, que se desmanche na mão.
_ A sombra é compreensível. Mas por que desejas ter a madeira fraca?
_ Porque eu não quero que de meus galhos façam a cruz para o suplício de inocentes.
Deus atendeu o pedido. E por gratidão os gaúchos tiram o chapéu toda vez que cruzam com o umbu.
Referência
FILHO, Pedro Haase. Lendas Gaúchas -2007 - Porto Alegre RBS publicações
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