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#RS - TRADIÇÃO HUMAITÁ - PRÉ-HISTÓRIA


TRADIÇÃO HUMAITÁ - PRÉ-HISTÓRIA #RS


Caçadores, pescadores e coletores das florestas: a tradição Humaitá

            Nas matas do Sul do Brasil e partes da Argentina e do Paraguai desenvolveu-se uma cultura diferente. É possível que seus fundadores sejam da mesma população que os caçadores das áreas abertas, mas até agora não se encontrou material para fazer a comparação.
Os acampamentos mais antigos, que recuam até 6.000 anos a.C. estão profundamente enterrados nos barrancos do Alto Uruguai e do Alto Paraná; dessa área, nos milênios seguintes, a floresta e a tradição Humaitá expandiram-se paralelamente; elas são mais recentes quanto mais periférica a esses locais é sua posição.



Os recursos que atraíam esses homens e tornavam sua vida possível, em parte estão na água dos rios, onde pescavam e recolhiam moluscos, em parte na floresta, onde caçavam animais de toda espécie (anta, veado, capivara, porco-do-mato, macaco, gato-do-mato, lontra, ratão do banhado, tatu, lagarto) e recolhiam caramujos terrestres e frutas; a maior parte dos sítios está tão perto de pinheirais que, em alguns dias de caminhada, teriam acesso a eles.
Os acampamentos seriam temporários e reuniriam pequenos grupos que voltariam tanto mais vezes ao mesmo local, quanto mais abundantes ou concentrados estivessem os recursos.
Os instrumentos abandonados nesses acampamentos compõem-se principalmente de grandes enxós, raspadores, talhadores e cunhas lascadas, que seriam usados para abrir clareiras na floresta e trabalhar madeira. Picões, facas, furadores e simples lascas completam os restos. Quase nunca aparecem instrumentos polidos, como poderiam ser lâminas polidas de machados, instrumentos lascados com a mesma forma e a mesma função substituíam os polidos e talvez fossem mais eficientes que aqueles.



A matéria-prima para fazer esses instrumentos costuma ser o basalto, o diabásio, o riolito ou o arenito silicificado, fáceis de recolher nas corredeiras dos rios sob a forma de seixos, ou nas encostas onde afloravam como grandes blocos. Mais raramente aparece a calcedônia e o quartzo, com que se produziam artefatos pequenos.
Os artefatos costumam ser bem maiores que os da tradição Umbu e bem diferentes, destacando-se especialmente a ausência de pontas de dardos ou flechas em pedra, as quais são os artefatos mais característicos daquela tradição. Provavelmente na tradição Humaitá seriam feitas de madeira.
Num abrigo rochoso estudado na Argentina foram encontrados numerosos anzóis feitos de osso, que dão uma ideia da importância que a pesca teria para o grupo. Nas paredes de alguns abrigos do vale do Jacuí foram deixadas gravações com a forma de pisadas de animais (de gatos, veados e aves) e símbolos sexuais masculinos e femininos.
Nos acampamentos a céu aberto, que hoje aparecem como manchas de terra escurecidas com carvão, instrumentos e restos de lascamento, ainda não foi possível recuperar ou identificar restos de choupanas, que se supõe as famílias levantavam como proteção contra intempéries e animais.
Como a tradição Umbu se mantinha nas áreas de vegetação aberta, assim a população da tradição Humaitá se restringia à floresta. É possível que em certas áreas da borda do planalto, no centro do Estado, grupos humanos das duas tradições estivessem muito próximos, se encontrassem e talvez se miscigenassem, como sugere a justaposição dos instrumentos das duas tradições nos mesmos acampamentos.



A tradição Humaitá permaneceu em sua área original, vivendo sempre em pequenos bandos dispersos pelo território, até o primeiro milênio d.C., quando sua área é invadida e rapidamente ocupada por migrantes da Amazônia, conhecidos em nossa história como Guaranis. O que aconteceu com a população da tradição Humaitá? Conhecendo o modo de vida dos invasores, cultivadores eficientes de floresta e canibais, podemos supor que o lento extermínio seria o destino das populações nativas. Refugiar-se nos campos não seria fácil porque eles estavam ocupados e a tecnologia que conheciam era inadequada para sua exploração; sair das áreas quentes da beira dos rios para ocupar os planaltos frios dos pinheirais oferecia dois obstáculos: a adaptação climática não seria fácil e a área estava povoada por um grupo bem adaptado, a tradição Taquara.

A tradição Humaitá não é exclusiva do Rio Grande do Sul. Ela se estendia igualmente pelas florestas subtropicais que acompanham o Alto Uruguai e o Alto Paraná, aparecendo com as mesmas características em Santa Catarina, no Paraná, em São Paulo e Misiones argentinas e paraguaias.
Há poucos trabalhos extensivos e nenhum trabalho aprofundado sobre a tradição Humaitá, embora todos os arqueólogos do Estado, em um momento ou outro, tenham lidado com ela. Sínteses abrangentes são encontradas em Kern (1981) e Schmitz (1984 e 1987).
Fonte:
André Luis Ramos Soares & Sergio Celio Klamt

Antecedentes Indígenas – Pré-História do Rio Grande do Sul

Comentários

  1. Os acampamentos seriam temporários e reuniriam pequenos grupos que voltariam tanto mais vezes ao mesmo local, quanto mais abundantes ou concentrados estivessem os recursos.

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