LENDAS GAÚCHAS
Como se não bastassem os ventos da cidade de Osório, que muitos dizem deixar o povo louco, cada lagoa do município tem uma história sobrenatural para ser contada. A gente do lugar adora contar histórias sobre os mistérios que rondam aquelas águas.
Da Lagoa dos Barros, entre Osório e Santo Antônio da Patrulha, já se disse muito.
Já se disse que a lagoa é amaldiçoada.
Não há peixe, não há camarão, não há alga, não há nada, nenhum ser vivo pode existir ali, de tão forte o feitiço. Ninguém nela toma banho, ninguém acampa em suas margens ou se arrisca a dar uma voltinha de barco, por mais breve que seja.
Falam quem a água é envenenada, que se não morrer há hora o vivente falece logo depois, após muita febre e dor de cabeça, punido pela imprudência. Também corre de boca em boca a crença do redemoinho. O redemoinho fica bem no meio da lagoa, suga qualquer nadador ou embarcação e larga no oceano, a milhas da costa.
Já se disse, ainda que a lagoa é encantada.
Viajantes noturnos juram que ali se apresenta um espetáculo sem par, coisa só descrita na mitologia grega. Fadas translúcidas, ninfas circulando sobre as águas, cavalgando em corcéis brancos, dançando ao som do vento. Sobre o vento também se fala: de tempos em tempos ele deixa de ser vento e vira música.
Mas a mais famosa história ligada à Lagoa dos Barros fala de um caso passional. Lá a noiva Maria Luiza, morta há anos, pode ser vista, vestida de branco, sobre as águas.
A lenda surgiu de um caso real. Nos idos da década de 1940, uma moça foi encontrada morta nas proximidades da lagoa. Alguns dizem que ela teria sido morta pelo próprio noivo. Os dois voltavam da festa de casamento, e ao passar pela lagoa, talvez possuído pelos maus espíritos que rondam o local, ele a estuprou e tirou sua vida. Como requinte de crueldade, a noiva teria sido enforcada com o próprio véu.
Outros contam que o motorista da família era por ela apaixonado e não correspondido. O amor impossível teria, então, um fim trágico. Corroído de ciúme do noivo a quem a moça era prometida, o motorista assassinou Maria Luiza na beira da lagoa quando a levava para casa à noite. Depois do crime, amarrou uma corda presa a uma pedra no pescoço de sua adorada, que foi jogada n’água.
Apesar dos esforços da polícia, a morte de Maria Luiza só foi esclarecida muitos anos depois, mas a falta de punição para o assassinato gerou a crença geral de que a alma da noiva ficaria vagando pela lagoa, para sempre, tornando o local mais temido e comentado do que já era.
Seja do fundo da lagoa ou do além, a noiva aparece, de vestido, véu e grinalda, assustando os motoristas.
Tem noites em que ela parece na beira da estrada, suja, ferida e pálida, pedindo carona. A pobre alma que se oferece para ajuda-la tem de se preparar para o susto. A noiva se evapora no ar no meio da viagem, deixando desnorteado o seu companheiro.
Verdade ou não, todo o povo de Osório sabe que há algo de estranho na Lagoa dos Barros, isso há.
FILHO, Pedro Haase – Lendas Gaúchas.
35 histórias com origem no imaginário popular rio-grandense – Porto Alegre 2007
– Publicações RBS
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