A maior parte das batalhas da Revolução Federalista (1893-1895) se deu nas planícies do Rio Grande do SulFonte: Agência Senado |
1893: a guerra civil federalista
Mário Maestri
Os federalistas reagruparam suas forças nas suas fazendas do norte do Uruguai, como nos tempos da Guerra Farroupilha (1835-1845). Novamente no poder, os republicanos históricos fortaleceram igualmente suas tropas e garantiram-se o apoio federal do marechal Floriano Peixoto. Em 15 de outubro de 1892, extinguia-se a Guarda Cívica e nascia a Brigada Militar, com mais de 1.200 homens na ativa, o primeiro exército profissional sulrio-grandense – dois batalhões de infantaria e um regimento de cavalaria. A Brigada Militar teria participação decisiva nas guerras de 1893 e 1923 e asseguraria o PRR contra as intervenções federais, contra os federalistas/libertadores e contra as classes subalternizadas. Para enfrentar os federalistas, armamentos modernos foram encomendados, organizou-se uma guarda municipal e instituíram-se “corpos provisórios” da Brigada Militar com os capatazes, gaúchos e apadrinhados dos fazendeiros republicanos.
Em 20 de novembro de 1892 Júlio de Castilhos foi reeleito à presidência do estado, por voto direto, e renovou-se a Assembleia dos Representantes. A oposição não participou do pleito, por estar voltada aos preparativos insurrecionais. Uma proposta de Silveira Martins de partição do poder entre republicanos e federalistas foi rejeitada por Castilhos. Em 25 de janeiro de 1893, o novo presidente foi empossado e, em 2 de fevereiro, eclodiu a Revolta Federalista, com a invasão dos territórios sulinos por tropas chegadas do Uruguai.
Os principais lideres da revolução; Gumercindo ao lado de Aparício, ambos ao centro, na Revolução Federalista 1894. |
As forças rebeldes eram comandadas por Gumercindo Saraiva e pelo general João Nunes da Silva Tavares. O velho Joca Tavares, designado comandante-em-chefe dos rebeldes, era proprietário de imensas fazendas em Bagé. Parte dos combatentes federalistas encontrava-se armada apenas com lanças. No plano político, os federalistas propunham a suspensão da Constituição republicana estadual castilhista, a deposição de Júlio de Castilhos e esperavam que o movimento fortalecesse conspirações então em curso no Exército, na Marinha e entre civis para depor Floriano Peixoto, que apoiava os republicanos rio-grandenses. Os sublevados queriam a substituição do presidencialismo pelo parlamentarismo. Com a partição parlamentar do poder, pretendiam barrar as reformas que os republicanos históricos propunham fazer, contrárias aos interesses dos grandes criadores rio-grandenses.
Avançar para o passado
A volta da Monarquia não era bandeira federalista, ainda que alguns rebeldes sonhassem com ela. Nas tropas rebeldes encontravam-se republicanos dissidentes, ferrenhos antibragantinos. A revolta era apoiada sobretudo pelos grandes fazendeiros da Campanha e do Planalto e contava com simpatias de parte dos colonos alemães.
Gaspar da Silveira Martins, fundador do Partido Federalista do Rio Grande do Sul |
A defesa de Gaspar Silveira Martins do direito ao voto dos não católicos e as perseguições republicanas ao líder liberal alemão Karl von Koseritz criavam simpatias ao movimento entre alguns imigrantes alemães. As razões da revolta eram profundas. Grandes proprietários pastoris na fronteira do Rio Grande do Sul e no Uruguai e importantes setores comerciais de Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande opunham-se à política de repressão ao contrabando desenvolvida pelos governos central e estadual desde 1890.
Júlio de Castilhos, fundador e líder do Partido Republicano Rio-Grandense |
Em 1908, Assis Brasil chegaria a dizer que, sem o contrabando, a “vida seria impossível” na fronteira. Desde 1888 e 1892, Uruguaiana e Santana do Livramento encontravam-se ligadas por via férrea com Montevidéu, respectivamente. Comumente, o gado de fazendas de rio-grandenses no Uruguai era charqueado no Rio Grande do Sul e, a seguir, exportado pelo porto de Montevidéu. Produtores de arroz, cachaça, erva-mate, feijão, fumo, etc. do norte do estado dependiam do ingresso ilegal de seus produtos no Prata. A repressão ao contrabando era proposta programática do PRR, que apoiava o desenvolvimento da economia do estado, a diversificação de sua produção e o fortalecimento do artesanato e da indústria nascente. O combate ao contrabando fortalecia as rendas públicas, facilitando a gestão do estado e os investimentos infraestruturais. A iniciativa era apoiada por industrialistas, operários e produtores coloniais e serranos.
A obstinada resistência oposta às tropas federalistas na cidade de Lapa (Paraná), pelo coronel Gomes Carneiro (em destaque), frustrou as pretensões rebeldes de chegarem ao Rio de Janeiro. |
FONTES
MAESTRI, Mário. BREVE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL da Pré-História aos dias atuais - Passo Fundo 2010. Editora Universidade de Passo Fundo
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