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REVOLUÇÃO FARROUPILHA - INSURREIÇÃO DOS GRANDES ESTANCIEIROS

Exposição de documentos originais serve para pesquisa e
 conhecimento de fatos históricos - Foto: Arquivo AHRS

A Farroupilha − a insurreição dos grandes estancieiros

MÁRIO MAESTRI

Em 7 de abril de 1831, a deposição de dom Pedro I, promovida pelos liberais exaltados (os farroupilhas eram federalistas e, muitas vezes, republicanos), levou ao poder os liberais moderados (os chimangos eram centralistas e, comumente, monarquistas). No poder, os liberais moderados promoveram reformas institucionais ampliando a base de apoio do regime regencial, sem satisfazer às reivindicações federalistas provinciais, que tinham como maior exigência a constituição de Assembleia Provincial com amplos poderes e, sobretudo, o direito de eleição direta pelos proprietários regionais do presidente da província. No Brasil, nos anos seguintes à Abdicação, em 7 de abril de 1831, os liberais federalistas promoveram movimentos políticos e armados no Ceará (1831-2), em Pernambuco (1831-5), em Minas Gerais (1833-5), na Bahia (1837-8), no Grão-Pará (1835-40), no Maranhão (1838-41), no Mato Grosso (1834), etc. Com a intervenção das camadas sociais subalternizadas livres e escravizadas, alguns desses movimentos ganharam forte conteúdo social, como a Balaiada (1838-41), no Maranhão, e a Cabanagem (1835-6), no Grão-Pará. No Rio Grande do Sul, o movimento liberal assumiu caráter separatista e republicano, apesar de essas orientações serem, possivelmente, minoritárias quando da eclosão da revolta, o que se modificaria quando da hegemonia plena dos estancieiros da Campanha, da fronteira e do norte do Uruguai sobre o movimento. Pelo fato de, no Brasil, os liberais exaltados serem conhecidos como “farroupilhas”, isto é, revolucionários, o movimento sulino passou para a história como Revolução Farroupilha. Constitui associação ingênua deduzir o qualificativo “farroupilha” de “farrapos”, que vestiriam os soldados republicanos nos momentos finais do conflito. Em 25 de dezembro de 1831, como parte da efervescência política determinada pela queda de Pedro I, fundou-se em Porto Alegre, salvo engano, a primeira loja maçônica sul-rio-grandense – Filantropia e Liberdade. É crível que o Gabinete de Leitura da Sociedade Continentino fosse centro de debate político aberto impulsionado por aquela loja maçônica. Em 1833, Bento Gonçalves, membro da Filantropia e Liberdade, teria recebido instruções e poderes da loja para estender a organização maçônica a Rio Grande ou Pelotas. A situação política de então, terreno fértil para esse tipo de organização clandestina, contribuiu para a difusão da maçonaria entre os liberais sulinos, ainda que não se possa e não se deva explicar o movimento farroupilha como resultado da ação conspirativa maçônica ou de qualquer outra ordem. Durante a revolta, maçons de Rio Grande e São Leopoldo optaram também pelo Império. 
 

General Bento Gonçalves
 - Foto: Arquivo AHRS

A conspiração liberal sulina precipitou-se após o republicano moderado Antônio Rodrigues Fernandes Braga, nascido no Rio Grande do Sul, assumir a presidência da província, sob indicação de Bento Gonçalves da Silva, importante chefe militar sulino e filho de rica e poderosa família de criadores, com importantes propriedades na Banda Oriental, em Cierro Largo. Com a designação de Fernandes Braga, a Regência procurava acalmar os grandes criadores sulinos, profundamente desencantados com o Império, que fora incapaz de impor sua hegemonia na Banda Oriental. Porém, logo o presidente da província se afastou dos farroupilhas e de Bento Gonçalves, fortalecendo a oposição entre liberais unitaristas e liberais federalistas, entre o governo central e as classes proprietárias regionais, com destaque para as da Campanha, da fronteira e do norte do Uruguai. Em 20 de abril de 1835, ao se abrirem os trabalhos da primeira sessão da Assembleia Provincial sulina, o presidente da província denunciou a existência de plano sedicioso para separar a província do Império e uni-la ao Uruguai, com o apoio de Lavalleja. O antigo capitão artiguista e herói da independência do Uruguai era compadre de Bento Gonçalves. A acusação, que se dirigia aos liberais extremados, em geral, e a Bento Gonçalves da Silva, em particular, não pôde ser comprovada pelo presidente da província, em sessão secreta, na qual os deputados farroupilhas eram maioria. Na época, Lavalleja encontrava-se marginalizado no Uruguai. Juan Antonio Lavalleja (1786-1853) comandara o movimento de independência do Uruguai, sendo, porém, deslocado, em favor de Fructuoso Rivera (1830-34; 1838-1843) e, a seguir, Manuel Oribe (1835-38), na direção daquele país. Naquele então, encontrava-se refugiado em Buenos Aires, sob a proteção de Juan Manoel de Rosas (1793-1877).
 
 Ele retomava parcialmente o programa artiguista ao propor uma federação da Banda Oriental, do Rio Grande do Sul, de Entre Rios e de Corrientes em um só grande Estado pastoril platino, contando para isso com agentes e fortes alianças no Rio Grande do Sul, entre eses Bento Gonçalves. Porém, essa proposta não seria aceita pela totalidade dos farroupilhas, entre os quais havia os que defendiam uma reorganização liberal, federativa, republicana e escravista do país, inspirada nos Estados Unidos da América . A história das intersecções entre as facções políticas farroupilhas e uruguaias no relativo ao programa e às alianças está ainda para ser escrita.
 

FONTES
MAESTRI, Mário. BREVE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL da Pré-História aos dias atuais - Passo Fundo 2010. Editora Universidade de Passo Fundo

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