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Mostrando postagens de maio, 2020

A PAZ HONROSA - REVOLUÇÃO FARROUPILHA

Acampamento da Carolina, nos campos do Ponche Verde, na cidade de Dom Pedrito. SANDRA JATAHY PESAVENTO  A REVOLUÇÃO FARROUPILHA  3ª edição Editora Brasiliense A "paz honrosa" A assinatura da Paz de Ponche Verde, a 28 de fevereiro de 1845, nos campos de Dom Pedrito, em plena campanha gaúcha, teve um significado ideológico fundamental para a imagem do movimento, que foi guardado pelas gerações futuras e habilmente explorado pela historiografia oficial. Os farrapos não sofreram uma derrota final nos campos de batalha, apesar de se encontrarem já bastante desgastados.     Obelisco da Paz Farroupilha Além disso, foi-lhes oferecida uma "paz honrosa", que atendia aos revoltosos em muitas das suas antigas reivindicações. Foi concedido aos es-tancieiros gaúchos o direito de escolherem o seu presidente de província; as dividas da República Rio-grandense seriam pagas pelo governo central; os generais farrapos poderiam, se o quisessem, passar par...

RS ESCRAVIDÃO, FAZENDA E CHARQUEADA

Escravidão, fazenda e charqueada MÁRIO MAESTRI Os historiadores divergem sobre a importância do trabalho escravizado na atividade pastoril, base fundamental da produção sulina até fins do século 19. Problema de difícil resolução, sem estudos monográficos sobre as diferentes regiões criatórias durante o século e meio de escravismo sulino.  Porém, algumas determinações gerais enquadram a questão. Inicialmente, é imprescindível compreender a forte distinção entre as fazendas chimarrãs e as fazendas crioulas ou de rodeio, realidade própria de toda a região da bacia do Prata.  Nas fazendas chimarrãs, de grandes dimensões, o gado vivia selvagem e semisselvagem e era abatido, em geral sur-place, pelo couro, sebo e graxa.    Viajantes da Província do Rio Grande do Sul –  Debret Essas propriedades exigiam poucos trabalhadores, ainda que sustentassem comumente população excedente, em razão do subaproveitamento das carnes. As fazendas...

REVOLUÇÃO FARROUPILHA - INSURREIÇÃO DOS GRANDES ESTANCIEIROS

Exposição de documentos originais serve para pesquisa e  conhecimento de fatos históricos - Foto: Arquivo AHRS A Farroupilha − a insurreição dos grandes estancieiros MÁRIO MAESTRI Em 7 de abril de 1831, a deposição de dom Pedro I, promovida pelos liberais exaltados (os farroupilhas eram federalistas e, muitas vezes, republicanos), levou ao poder os liberais moderados (os chimangos eram centralistas e, comumente, monarquistas). No poder, os liberais moderados promoveram reformas institucionais ampliando a base de apoio do regime regencial, sem satisfazer às reivindicações federalistas provinciais, que tinham como maior exigência a constituição de Assembleia Provincial com amplos poderes e, sobretudo, o direito de eleição direta pelos proprietários regionais do presidente da província. No Brasil, nos anos seguintes à Abdicação, em 7 de abril de 1831, os liberais federalistas promoveram movimentos políticos e armados no Ceará (1831-2), em Pernambuco (1831-5), em Minas Gera...

SOBRE GUERRA CIVIL FEDERALISTA - SUL DO BRASIL

A maior parte das batalhas da Revolução Federalista (1893-1895)  se deu nas planícies do Rio Grande do Sul Fonte: Agência Senado 1893: a guerra civil federalist a Mário Maestri Os federalistas reagruparam suas forças nas suas fazendas do norte do Uruguai, como nos tempos da Guerra Farroupilha (1835-1845). Novamente no poder, os republicanos históricos fortaleceram igualmente suas tropas e garantiram-se o apoio federal do marechal Floriano Peixoto. Em 15 de outubro de 1892, extinguia-se a Guarda Cívica e nascia a Brigada Militar, com mais de 1.200 homens na ativa, o primeiro exército profissional sulrio-grandense – dois batalhões de infantaria e um regimento de cavalaria. A Brigada Militar teria participação decisiva nas guerras de 1893 e 1923 e asseguraria o PRR contra as intervenções federais, contra os federalistas/libertadores e contra as classes subalternizadas. Para enfrentar os federalistas, armamentos modernos foram encomendados, organizou-se uma guarda municip...

O ANGÜERA - LENDA GAÚCHA

SIMÕES LOPES NETO LENDA GAÚCHA O Angüera, enquanto foi pagão, chamava-se desse nome era um índio grande, forçudo e valente; mas era triste, carrancudo e calado.  Quando os padres de Jesus entraram no sertão da serra, corridos que vinham doutro rumo, foi Angüera, o tapejara, que conduziu sem erro a companhia; e quando os padres sentaram pouso, batizou-se.  E foi padrinho Mbororé, que era cacique e já amigo, muito, dos padres. O nome de Angüera, pagão, ficou sendo Generoso, nome de cristão.  E foi como cobra que deixa a casca ...  Angüera, que era triste, deixou a casca de tristura e, como Generoso, de nome bento ficou prazenteiro.  E ajudou a botar pedra no alicerce de todas as igrejas dos Sete Povos. E durou anos esse ofício!... E ele sempre risonho e cantador.  Um dia, chamou o padre-cura, confessou-se e foi ungido de óleo santo e morreu.  Generoso morreu contente, pois a cara do seu cadáver guardou um ar...

LAGOA DOS BARROS - A LENDA

LENDAS GAÚCHAS  Como se não bastassem os ventos da cidade de Osório, que muitos dizem deixar o povo louco, cada lagoa do município tem uma história sobrenatural para ser contada. A gente do lugar adora contar histórias sobre os mistérios que rondam aquelas águas.  Da Lagoa dos Barros, entre Osório e Santo Antônio da Patrulha, já se disse muito.  Já se disse que a lagoa é amaldiçoada.  Não há peixe, não há camarão, não há alga, não há nada, nenhum ser vivo pode existir ali, de tão forte o feitiço. Ninguém nela toma banho, ninguém acampa em suas margens ou se arrisca a dar uma voltinha de barco, por mais breve que seja.     Falam quem a água é envenenada, que se não morrer há hora o vivente falece logo depois, após muita febre e dor de cabeça, punido pela imprudência. Também corre de boca em boca a crença do redemoinho. O redemoinho fica bem no meio da lagoa, suga qualquer nadador ou embarcação e larga no oceano, a milhas da...

PORTO ALEGRE CRESCE

PORTO ALEGRE de 1752 - 1772  O pequeno porto ocupado pelos açorianos desde 1752 ganha importância, sedia o governo e se transforma num fortim. O pequeno arraial de casas de barro com telhado de palha, erguido à beira do Guaíba, em 1752, pelos casais açorianos, transformou-se em capital em meio à ocupação espanhola, em 25 de julho de 1773. Nesse dia, o governador José Marcelino comunicou à Câmara de Viamão que a capital se mudava para a paróquia de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre.     A posição estratégica do antigo Porto dos Casais foi fundamental na tomada dessa decisão. Rio Grande, ao Sul, estava tomada pelos espanhóis; em Rio Pardo, ficava a principal fortaleza dos portugueses. Situado no meio, o lugar era fácil de fortificar. Com a vila no alto do promontório de granito, bastavam poucos canhões e correntes para impedir a penetração espanhola pela Lagoa dos Patos.     Ocupada por pequenos estaleiros de...

A IMIGRAÇÃO JUDAICA - RIO GRANDE DO SUL

  Fonte: Acervo Iconográfico do ICJMC Colégio em Phillipson, 1929.   SÉCULO XIX  FÁBIO KÜHN   A partir do século XIX, encontram-se registros da presença judaica no Rio Grande do Sul, embora, na sua maioria, fossem casos isolados. Somente a partir de 1904 teve início a emigração organizada para o Sul do Brasil. Os primeiros imigrantes vieram do Império russo e fugiam das perseguições políticas, religiosas e econômicas promovidas pelos governantes e pelas classes dominantes daquele país. É bom lembrar que, no início do século XX, começava a crescer na Europa o antissionismo, atitude que levava à discriminação e à perseguição dos judeus. Para complicar ainda mais a situação, os judeus viviam espalhados em vários países e ainda não tinham seu próprio Estado nacional, o que somente se concretizou depois da Segunda Guerra Mundial e do trauma gerado pelo genocídio nazista. Na história da imigração judaica para o Rio Grande do Sul podemos identificar ...

LENDA DO PAI QUATI

Pedro Haase Filho SANTA MARIA/RS  Em meados do século 19, um mistério rondava as estâncias de Banhados, lá pelos cantos do segundo distrito de Santa Maria da Boca do Monte, na região central do Rio Grande do Sul. Na calada da noite, quando todos estavam dormindo, coisas desapareciam ... e apareciam também. Desapareciam facas, apareciam esteiras. Sumiram ferramentas, surgiram vasos. Perdia-se uma manta de charque, ganhava-se um balaio artesanal. Não havia que conseguisse explicar o caso.  Numa coisa todos concordavam: não era obra de um ladrão. O responsável por aquilo não estava roubando, estava trocando alguns itens por outros. Procura dali, procura daqui, ninguém conseguia descobrir quem passava as noites de casa em casa fazendo escambos. Na falta de uma solução lógica para o fato, todos passaram a tecer suas próprias teorias.  _ O demônio está por trás disso!  _ Magia negra!  _ Feitiçaria!  _ Isso é coisa desses escravos ...

QUANDO GRAMADO NASCIA

Lothar Francisco Hessel A projeção do atual Gramado estende-se hoje por todo o Brasil e mesmo além de suas fronteiras, graças às projeções em tela que periodicamente, em seus festivais, fazem silenciar expectadores, críticos e jornalistas especializados, fascinados que ficam pelos achados artísticos da chamada sétima arte.  Nem sempre foi assim. Um belga intelectual, que conheceu Gramado ainda em gatinhas, em janeiro de 1977 assim depôs:     A atual cidade em que o Hotel das Hortênsias do alto de sua colina domina a paisagem, eu a conheci em 1920. Naqueles tempos nenhuma casa da localidade estava coberta de telhas, quer de zinco, quer de ardósia ou mesmo de madeira. Por toda a parte, sem uma única exceção, tetos de palha.  O trem não ia além: Canela era ainda uma floresta que João Correia estava começando a abater. A cascata do Caracol emoldurava-se nuns pinheirais que tornava sua visão inesquecível. Vi tudo isso numa das minhas prim...