Dona Francelina Bueno de Paula com o pai da
aluna Márcia. Charqueada número dois.
Prof. José
Edimilson Kober
“Em 1700 – João de Magalhães (explorador português)
chamou esta terra de terra de ninguém.” um.
As margens do rio Jacuí, na época, região do
município de São Jerônimo, foram testemunhas, na segunda metade do século 18,
do surgimento das primeiras charqueadas. Em torno delas, formou-se um núcleo
populacional, que viu a economia crescer com a criação de 13 charqueadas
próximas ao rio. No entanto, o primeiro nome atribuído a esta
localidade foi “Lindos Aires”.
“Em 1752 – com a instalação do
regime de sesmaria estas terras passaram a se chamar Sesmaria da Piedade.”2
A Sesmaria era a
concessão de terras no Brasil pelo governo português com o intuito de
desenvolver a agricultura, a criação de gado e, mais tarde, o extrativismo
vegetal, tendo se expandido à cultura do café e do cacau. Ao mesmo tempo,
servia a povoar o território e a recompensar nobres, navegadores ou militares
por serviços prestados à coroa portuguesa.
O professor Benedito Veit exibe
na capa do seu livro “Por que Charqueadas?” um mapa localizando as 13
charqueadas. Segundo este as charqueadas eram:
1-
Capitão
Manuel Faustino José Martins, mais tarde será transformado em Charqueada
Meridional.
2-
De
Jerônimo Poeta, mais tarde adquirida por Francelina Bueno de Paula, localizada
na Rua Costa e Silva.
3-
Do
Coronel Manoel de Leão, localizada onde atualmente fica o sítio Boa Vista, que
pertence a José de Araujo Dornelles.
4-
De
Juca Leão, onde fica o sitio Figueiras, lá existiu um casarão as margens do
Jacuí.
5-
De
Manoel Fernandes Lima, onde hoje esta o sitio Porto Capela. Indícios de que ali
começou o povoamento de Charqueadas.
6-
De
João da Costa, onde hoje fica o sitio do Sobradinho, herdeiros Ballvê e Rahbe.
7-
De
Francisco Borges, no coração da vila Santo Antônio, morador antigo Artur
Dornelles tinha uns 80 escravos.
8-
De
Francisco Leão, localizada atrás da Gerdau, Jocelim Araújo afirma que lá havia
um túnel.
9-
Dona
Maria Guedes, também localizada no terreno hoje da Gerdau próximo ao rio.
10-
De
dona Senhorinha, ficava na área da COPELMI, tinha uma ilha com o nome
Senhorinha.
11-
De
Cel. Manoel dos Santos, localizada também em área da COPELMI perto do antigo
porto Mauá, lá também existiu um famoso casarão.
12-
De
Maia, localizada no antigo cinema (o que restou dele) e o famoso prédio (Rua
Ricardo Louzada) visto por A. Isabelle, em 1834. Aqui também existem indícios
de ter começado o povoamento de Charqueadas.
13-
De
dona Antônia Luiza de Lima, ficava antes do arroio Leão no entorno do Estádio
Municipal, no sitio de Cecita Sieben.
O pioneiro dessa atividade foi o capitão Francisco
Correia Sarafana, um fazendeiro em Arroio dos Ratos. Mais adiante, o coronel
José Manoel de Leão adquiriu terras (provavelmente do capitão Sarafana) dando
continuidade à produção saladeiril (nome dado à exploração das charqueadas),
mantendo escravos no trabalho de salga da carne. Sabe-se que das 13 charqueadas
que existiram no município, quatro pertenceram à família Leão.
A Revolução Farroupilha veio alterar o quadro em
São Jerônimo. O coronel, que se tornou comandante da Legião da Guarda Nacional
de Triunfo engajou-se na luta e acabou morto em sua fazenda. Os filhos,
Francisco José de Leão (Chico Leão) e José Manuel de Leão (Juca Leão) tiveram o
mesmo destino e foram assassinados pelo Barão do Jacuí, Francisco Pedro de
Abreu, na madrugada do dia 18 de setembro de 1839. Mas Juca Leão já tinha uma
herdeira, Maria Antônia Socorro de Leão, que viria a se casar em 1846 com
Antônio Joaquim Dorneles e Souza, de família também dedicada ao mesmo ramo.
Assim, as charqueadas prosseguiram por muito tempo,
escoradas na mão de obra escrava, consolidando uma população crescente naquela
área e levando para outros pontos o resultado da produção local.
Pelo rio
Jacuí inúmeros barcos transportavam, até o porto de Rio Grande ou até Porto
Alegre, grande quantidade de charque, o sebo e os couros. O rio passou a ser
uma grande estrada para transportar mercadorias e pessoas.
Em 1821- O explorador francês Auguste Prouvençal de
Saint-Hilaire ao passar por aqui narrou em seu diário: “A uma légua dessa
aldeia existem ainda charqueadas, à direita passamos por um riacho denominado
Arroio dos Ratos”.
Em 1834 – O explorador francês “Luuis Frédéric
Arséne Isabelle” ao passar por aqui narrou em seu livro “Há nas charqueadas
casas muito belas, solidamente construídas, observei uma sobre tudo, que
parecia um edifício público de tão amplo que era”.
Em 1836 – No dia 4 de outubro Bento Gonçalves ao
tentar atravessar o rio Jacuí para se juntar as tropas de Domingos Crecêncio,
que se encontrava na charqueada, foi preso na ilha do Fanfa.
Em 1885 – Desembarca na Porto de Charqueadas a
Princesa Isabel para visitar e inaugurar o poço Dona Isabel, em Arroio dos
Ratos.
Indústria saladeiril
“O Charque era produzido em
estabelecimentos saladeiris, em moldes de trabalho de manufatura, ao ar livre.
O abate do gado era realizado pelo magarefe, o qual era encarregado do abate,
em larga escala, no próprio campo. O trabalho de matança se iniciava de
madrugada, para evitar o calor. Após, outro grupo de peões (ou escravos) eram
encarregados de retirar a courama e estaqueá-la no chão, para secar. Depois, os
carneadores cortavam a carne em forma de mantas, as quais passavam aos salgadores,
que as colocavam de molho na salmoura dentro de enormes tanques, ou de valas,
cavadas no chão, revestidas de couro. A carne permanecia de molho por longo
período. Posteriormente, as mantas de carne salgada eram dispostas em varais
para a secagem. O Charque, após a secagem, era empilhado para ser armazenado
até a venda. Às vezes, devido as más condições de armazenamento, grande
quantidade de charque se deteriorava durante o inverno. O processo de salga de
carne ocorria no período de verão, pois era um trabalho ao ar livre, dependendo
do calor e sol para a secagem do charque.” (Monografia de Charqueadas.
Fernandes, Joana Olívia e Lima, Magali Perez)
Vídeo História Período do Charque.
Charqueada Porto Capela. Vídeo.
Granja Carola. Vídeo.
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