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Origens de Charqueadas/RS - 2012

Prof. José Edimilson Kober
“Em 1700 – João de Magalhães (explorador português) chamou esta terra de terra de ninguém.” um.
As margens do rio Jacuí, na época, região do município de São Jerônimo, foram testemunhas, na segunda metade do século 18, do surgimento das primeiras charqueadas. Em torno delas, formou-se um núcleo populacional, que viu a economia crescer com a criação de 13 charqueadas próximas ao rio. No entanto, o primeiro nome atribuído a esta localidade foi “Lindos Aires”.

“Em 1752 – com a instalação do regime de sesmaria estas terras passaram a se chamar Sesmaria da Piedade.”2
A Sesmaria era a concessão de terras no Brasil pelo governo português com o intuito de desenvolver a agricultura, a criação de gado e, mais tarde, o extrativismo vegetal, tendo se expandido à cultura do café e do cacau. Ao mesmo tempo, servia a povoar o território e a recompensar nobres, navegadores ou militares por serviços prestados à coroa portuguesa.

O professor Benedito Veit exibe na capa do seu livro “Por que Charqueadas?” um mapa localizando as 13 charqueadas. Segundo este as charqueadas eram:



1-                            Capitão Manuel Faustino José Martins, mais tarde será transformado em Charqueada Meridional.















2-                            De Jerônimo Poeta, mais tarde adquirida por Francelina Bueno de Paula, localizada na Rua Costa e Silva.
Francelina Bueno de Paula morreu aos 110anos









           








3- Do Coronel Manoel de Leão, localizada onde atualmente fica o sítio Boa Vista, que pertence a José de Araujo Dornelles.

4-                            De Juca Leão, onde fica o sitio Figueiras, lá existiu um casarão as margens do Jacuí.



Porto Capela/ Santo Antônio

5-                            De Manoel Fernandes Lima, onde hoje esta o sitio Porto Capela. Indícios de que ali começou o povoamento de Charqueadas.








Sitio Sobradinho. Charqueada seis.

6-                      De João da Costa, onde hoje fica o sitio do Sobradinho, herdeiros Ballvê e Rahbe





7-                          

7-  De Francisco Borges, no coração da vila Santo Antônio, morador antigo Artur Dornelles tinha uns 80 escravos.

8-                            De Francisco Leão, localizada atrás da Gerdau, Jocelim Araújo afirma que lá havia um túnel.
Irmãos Leão.













9-                            Dona Maria Guedes, também localizada no terreno hoje da Gerdau próximo ao rio.

10-                        De dona Senhorinha, ficava na área da COPELMI, tinha uma ilha com o nome Senhorinha.
11-                        De Cel. Manoel dos Santos, localizada também em área da COPELMI perto do antigo porto Mauá, lá também existiu um famoso casarão.
12-                        De Maia, localizada no antigo cinema (o que restou dele) e o famoso prédio (Rua Ricardo Louzada) visto por A. Isabelle, em 1834. Aqui também existem indícios de ter começado o povoamento de Charqueadas.
13-                        De dona Antônia Luiza de Lima, ficava antes do arroio Leão no entorno do Estádio Municipal, no sitio de Cecita Sieben. Charqueada dona Antônia

O pioneiro dessa atividade foi o capitão Francisco Correia Sarafana, um fazendeiro em Arroio dos Ratos. Mais adiante, o coronel José Manoel de Leão adquiriu terras (provavelmente do capitão Sarafana) dando continuidade à produção saladeiril (nome dado à exploração das charqueadas), mantendo escravos no trabalho de salga da carne. Sabe-se que das 13 charqueadas que existiram no município, quatro pertenceram à família Leão.
A Revolução Farroupilha veio alterar o quadro em São Jerônimo. O coronel, que se tornou comandante da Legião da Guarda Nacional de Triunfo engajou-se na luta e acabou morto em sua fazenda. Os filhos, Francisco José de Leão (Chico Leão) e José Manuel de Leão (Juca Leão) tiveram o mesmo destino e foram assassinados pelo Barão do Jacuí, Francisco Pedro de Abreu, na madrugada do dia 18 de setembro de 1839. Mas Juca Leão já tinha uma herdeira, Maria Antônia Socorro de Leão, que viria a se casar em 1846 com Antônio Joaquim Dorneles e Souza, de família também dedicada ao mesmo ramo.
Assim, as charqueadas prosseguiram por muito tempo, escoradas na mão de obra escrava, consolidando uma população crescente naquela área e levando para outros pontos o resultado da produção local.
 Pelo rio Jacuí inúmeros barcos transportavam, até o porto de Rio Grande ou até Porto Alegre, grande quantidade de charque, o sebo e os couros. O rio passou a ser uma grande estrada para transportar mercadorias e pessoas.

Em 1821- O explorador francês Auguste Prouvençal de Saint-Hilaire ao passar por aqui narrou em seu diário: “A uma légua dessa aldeia existem ainda charqueadas, à direita passamos por um riacho denominado Arroio dos Ratos”.

Em 1834 – O explorador francês “Luuis Frédéric Arséne Isabelle” ao passar por aqui narrou em seu livro “Há nas charqueadas casas muito belas, solidamente construídas, observei uma sobre tudo, que parecia um edifício público de tão amplo que era”.








Em 1836 – No dia 4 de outubro Bento Gonçalves ao tentar atravessar o rio Jacuí para se juntar as tropas de Domingos Crecêncio, que se encontrava na charqueada, foi preso na ilha do Fanfa.










Em 1885 – Desembarca na Porto de Charqueadas a Princesa Isabel para visitar e inaugurar o poço Dona Isabel, em Arroio dos Ratos.

Indústria saladeiril
            “O Charque era produzido em estabelecimentos saladeiris, em moldes de trabalho de manufatura, ao ar livre. O abate do gado era realizado pelo magarefe, o qual era encarregado do abate, em larga escala, no próprio campo. O trabalho de matança se iniciava de madrugada, para evitar o calor. Após, outro grupo de peões (ou escravos) eram encarregados de retirar a courama e estaqueá-la no chão, para secar. Depois, os carneadores cortavam a carne em forma de mantas, as quais passavam aos salgadores, que as colocavam de molho na salmoura dentro de enormes tanques, ou de valas, cavadas no chão, revestidas de couro. A carne permanecia de molho por longo período. Posteriormente, as mantas de carne salgada eram dispostas em varais para a secagem. O Charque, após a secagem, era empilhado para ser armazenado até a venda. Às vezes, devido as más condições de armazenamento, grande quantidade de charque se deteriorava durante o inverno. O processo de salga de carne ocorria no período de verão, pois era um trabalho ao ar livre, dependendo do calor e sol para a secagem do charque.” (Monografia de Charqueadas. Fernandes, Joana Olívia e Lima, Magali Perez)

Comentários

  1. O sobrado sob a rubrica de data 1834 (que aqui aparece em foto preto e branco, embaçada), foi residência de minha família -- ALBERTO HERMÍNIO DE ANDRADE E MARIA DE LOURDES FREITAS DE ANDRADE. Ali nasci e me criei, nos espaços amplos do sobrado, sob a paineira e ciprestes, com o largo Jacuí à frente. A foto foi tirada por mim em 1950, numa rústica "Kodak caixão", e nunca imaginaria que ela teria importância histórica. Segundo soube por minha avó, o sobrado fora residência de "ingleses proprietários das minas de carvão", no século XIX, época em que o minério era transportado rio abaixo por veleiros. FLORO FREITAS DE ANDRADE - florofreitas@yahoo.com.br

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